segunda-feira, 20 de abril de 2009

Tipos

Lá estava você. Sentada em uma mesinha daquele lugar badalado na cidade. Você e seu drink favorito da noite. E eis que surge aquele homem, do nada absoluto. Com uma abordagem um tanto quando manjada “Você está sozinha aqui? Cadê suas amigas?”. Você não repara muito no homem mas, à primeira vista, ele é o oposto do seu tipo ideal de homem.

Você gosta de loiros, altos e de olhos claros. Mas você é uma baita mulher, da maior finesse e não vai destratar o cidadão. Então, vocês começam um papo típico de pessoas que se conhecem na noite. O velho e bom “como é seu nome”, “o que você faz da vida”, “onde você mora” e por aí vai. Em poucos minutos, você conclui que uma conversa interessante vale muito mais do que um rostinho bonito. Do que um bíceps de 40cm de diâmetro. Do que um cabelo loiro ou uma pele bronzeada. E, mais do que isso. Em cinco minutos de conversa, você descobre que o cara conhece seu chefe. Adivinhou seu sobrenome quando você disse a cidade onde mora sua família. Coincidência??? Deixa pra lá (você mora numa cidade com mais de um milhão de habitantes e deve ser normal que essas coincidências aconteçam mesmo).

Mais alguns poucos minutos e o cidadão passa da condição de homem-nada-seu-tipo para homem-que-você-beijaria. Pois bem. Você acaba beijando o cidadão e descobrindo que uma química sem noção acomete também as pessoas que não são o tipo umas das outras. Você achava mesmo que só se atraia pelo estilo Brad Pitt e por aquele saradíssimo bronzeado da academia. Você nunca pensou que pudesse se atrair pelo playboy frenético da música eletrônica. Ledo engano. Mas, lá estava você. Encostada na parede da boate como nos tempos de adolescente. Segurando aquele cabelo macio. Beijando uma boca nova e quebrando conceitos antigos. Derrubando vodka com energético no seu Schutz novinho e morrendo de rir da situação. Perdendo o fôlego e tentando controlar a respiração. Quebrando as regras. Quebrando seus próprios limites. Deixando seus instintos te guiarem.

Até onde vai? Você não faz a mínima idéia. A única coisa que você sabe agora é que você não sai mais por aí procurando homens seu tipo. Procurando homens com um rótulo específico. Comprando o produto pela embalagem. Agora, e daqui pra frente, você lê a bula. Você checa se os compostos químicos são compatíveis. Você pula a parte que fala dos efeitos colaterais (isso você acaba descobrindo mais cedo ou mais tarde!). E, claro, evita a superdosagem. A superdosagem mata qualquer um.

O conceito do homem seu tipo, agora, está completamente reformulado. O homem seu tipo tem um papo legal. Ele lembra coisas que você disse na segunda vez que saíram que nem você lembrava de ter dito. Ele ri das coisas idiotas que você fala. Ele fala coisas mais idiotas que você. Ele ouve você cantar, pela décima vez, aquela música baranga que você adora. Pior: ouve você cantar e dança junto no meio da rua. O homem seu tipo entende um conceito de pontuação louco e imaginário que você criou, na sua cabeça, para avaliar a atitude das pessoas positiva ou negativamente. Ele dorme infinito.

O novo homem seu tipo não pode ser encontrado em festivais de Pop-rock, Axés e Micaretas, pois ele, dificilmente, poderá ser reconhecido à distância. Mas, não se preocupe se não o identificar logo de cara. Você, certamente, irá reconhecê-lo assim que ele abrir a boca.



E, o mais importante: o homem que não te quer, definitivamente, não é seu tipo.

Um comentário:

Elenara Stein Leitão disse...

E normalmente o homem do teu tipo aparece justo quando tu nem estava procurando por ele...Justo quando tu estás distraída, ele vem e te arrebata.

Texto excelente como sempre. Devias pensar em escrever para jornais ou revistas.
Bjos
Elenara